Em sintonia com a luta mundial das mulheres por direitos e igualdade, militantes de movimentos populares e outras participantes realizaram uma marcha nesta quinta-feira (8) na capital federal, em referência ao 8 de Março. Elas seguiram da Catedral Metropolitana de Brasília até o prédio do Congresso Nacional, onde reforçaram o coro por respeito à liberdade e à autonomia das mulheres.
A luta contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 181, que abre espaço para a criminalização do aborto em casos de estupro, teve destaque entre as manifestantes.
"Esse foi um dos símbolos da primavera feminista de 2017. Mostrou que nós somos capazes de muito mais", disse a militante feminista Dora Barbosa, em referência à dificuldade de aprovação da proposta. Patrocinada por parlamentares da bancada evangélica e deputados católicos carismáticos, a PEC 181 tramita atualmente na Câmara Federal, mas não chegou a ser votada em comissão especial por falta de acordo.
A legalização do aborto é uma das principais reivindicações do movimento feminista, que defende o livre-arbítrio das mulheres sobre seu corpo. Por conta disso, o tema é central entre as pautas do 8 de Março.
"Estou aqui pra pedir que respeitem o nosso direito de decidir se queremos ou não interromper uma gravidez, pois essa é uma decisão que cabe única e exclusivamente às mulheres, não à família tradicional brasileira nem muito menos a esses deputados", afirmou a estudante Ana Júlia Costa, de 19 anos, que resistiu à chuva para participar do protesto.
A militante Edineide Arruda, do Coletivo de Mulheres do Distrito Federal, lembrou que a pauta de luta das mulheres inclui diversas demandas. "Queremos autonomia financeira, queremos estar nos espaços de poder e também buscamos muitas outras coisas, como o fim da cultura do estupro e o direito de ir e vir sem sermos importunadas por conta do machismo", destacou.
Já a militante Santa Alves, da União de Negras e Negros por Igualdade (Unegro), pontuou a necessidade de combater o racismo junto com a luta pelo feminismo. "Não podemos separar isso porque nós, mulheres negras, somos as mais violentadas. Temos mais dificuldade pra tudo, inclusive pra arrumar emprego", ressaltou.
Preconceito
Durante a marcha das mulheres, uma ocorrência despertou a atenção das participantes. O fotógrafo Matheus Alves, do coletivo Mídia Ninja, teve a mochila revistada pela Polícia Militar (PM) e considera ter sido vítima de racismo. "Eu estava fotografando quando eles me abordaram, de forma até grosseira, e mandaram abrir a bolsa. Fui o único a ser revistado e isso sempre acontece", narrou. Na ocasião, houve um princípio de tumulto e o público do ato entoou palavras de ordem contra a PM, acusando a corporação de racismo.
Segundo o fotógrafo, uma policial militar negra teria se aproximado dele na sequência e pedido desculpas pela abordagem do grupo. "Ela chegou perguntando o que estava acontecendo, por conta da roda que se formou, eu expliquei a situação e ela se desculpou", complementou Alves.
O Brasil de Fato procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Distrito Federal para ter um posicionamento sobre o incidente, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem.