Em editorial publicado nesta quinta (21), o jornal espanhol El País destaca a perseguição jurídica de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima. O periódico aponta que o tempo está dando razão a Lula em dois aspectos: ele sempre proclamou sua inocência (e sua confiança na Justiça brasileira) e sempre denunciou ser vítima de perseguição judicial.
Os dois pontos estão provados pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que comprovou a atuação parcial do então juiz Sérgio Moro e pela série de vitórias jurídicas do ex-presidente.
El País traz ainda a importância de uma aliança ampla para derrotar Bolsonaro nas urnas em 2022 e converter a “presidência do populista de ultradireita Jair Bolsonaro em um pesadelo passageiro”.
Leia a íntegra do editorial em português:
O tempo deu razão a Lula
Ao homem que presidiu o Brasil entre 2003 e 2011 cabe agir com precisão para tirar Bolsonaro do poder
A um ano das eleições presidenciais no Brasil, o esquerdista Lula da Silva tem um caminho claro para lutar contra o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro. Lula recuperou seus direitos políticos em março passado, quando o Supremo Tribunal Federal anulou as duas condenações por corrupção que mantiveram o líder do Partido dos Trabalhadores preso por 19 meses e que, por decisão do mesmo tribunal, o impediram de ir às urnas contra Bolsonaro em 2018. A anulação das sentenças foi seguida por outra decisão judicial de longo alcance, que considerou que o juiz Sergio Moro não foi imparcial no julgamento de Lula. Essa sentença teve um efeito cascata cristalizado em uma série de decisões judiciais que nos últimos meses levaram ao encerramento de praticamente todos os processos contra o homem que presidiu o Brasil de 2003 a 2011. Ele só tem um processo penal aberto, segundo sua defesa.
O tempo está dando razão a Lula em dois aspectos: ele sempre proclamou sua inocência e sua confiança na Justiça brasileira. E sempre se considerou vítima de perseguição judicial no âmbito da operação Lava Jato, investigação de lavagem de dinheiro que acabou revelando subornos da Petrobras em quatro países. Especificamente, Lula denunciou ser uma presa para o juiz Moro, cuja atuação parcial foi demonstrada por seus pares.
Salvo em caso de surpresa maiúscula, tanto Lula quanto Bolsonaro serão candidatos nas eleições de dois turnos marcadas para outubro de 2022. O líder do PT lidera as urnas com facilidade, mas é improvável que os votos da esquerda sozinhos consigam derrotar o ultra direitista Bolsonaro. Lula precisa forjar uma aliança ampla, como aquela que lhe deu sua primeira vitória eleitoral, na quarta tentativa, há quase duas décadas. Tem a seu favor a erosão de Bolsonaro pelas 600.000 mortes que o covid-19 e a crise econômica deixaram no Brasil. Relatório do Senado brasileiro, apresentado ontem, recomenda que o presidente seja indiciado por crimes contra a humanidade pela gestão da pandemia. Mas Lula tem contra si a suspeita de boa parte da elite e da mídia, além das restrições devido à pandemia. Se Bolsonaro reina nas redes sociais, o habitat natural de Lula é o contato direto com eleitores, comícios e abraços.
Muitos brasileiros se arrependeram de ter votado no militar aposentado, mas isso não implica em disposição de apoiar o Partido dos Trabalhadores dentro de um ano, embora o ódio a Lula e a seu partido perca força à medida que avança o anti-bolsonarismo. Lula, que ao longo de sua carreira tem se mostrado um bom estrategista, terá que agir com precisão para construir uma coalizão que dilua a rejeição que ainda desperta e reúna forças suficientes para transformar a presidência do populista de extrema direita Jair Bolsonaro em um pesadelo passageiro.
Confira aqui o editorial em espanhol.
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