Desde março um laboratório móvel percorre cidades do médio norte goiano levando atividades científicas para a população. A ideia, idealizada e fomentada no campus Ceres do Instituto Federal Goiano, é popularizar a ciência e estimular a formação de professores. O Baú da Ciência, com ambientes interativos, tem chamado a atenção de estudantes e adultos que acompanham de perto reações em quatro eixos científicos: química, física, biologia e informática/robótica.
“Somos uma instituição pública. Esta é uma forma de devolver à sociedade o investimento feito aqui”, explica o diretor da unidade, Cleiton Mateus Sousa. Foi a preocupação com o pouco interesse pelos cursos de licenciatura oferecidos pelo IF Goiano que fez a escola pensar em atividades extramuros. A presença do Baú da Ciência em eventos, como feiras e exposições, tem aguçado a curiosidade de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ver de perto um microscópio.
“Esta é a ideia. Ficar longe dos grandes centros onde as escolas contam com estrutura mais avançada”, explica Cleiton Sousa. A carreta transformada no Baú da Ciência foi uma doação da Delegacia da Receita Federal em Goiás, na gestão de José Aureliano Ribeiro de Matos, que se sensibilizou com o projeto. O veículo tinha sido apreendido em atividade ilícita e passou por um amplo processo de adaptação para receber quatro laboratórios, uma empreitada assumida por Priscilla Pimentel.
Nos 34,3 m2 da carroceria foram instalados os laboratórios de física, química, biologia e informática/robótica, além de uma sala para depósito. Todos os ambientes são integrados e climatizados e possuem móveis planejados e cores que os distinguem. Iluminação em LED, caixa d’água, lavatório, escada, toldo retrátil e plataforma elevatória para receber pessoas com mobilidade reduzida completam a estrutura móvel. O aparelhamento foi possível através de uma emenda parlamentar no valor de R$ 130 mil capitaneada pelo deputado federal Rubens Otoni Gomide (PT/GO).
O Baú da Ciência foi oficialmente apresentado em março no aniversário de 27 anos do campus Ceres do IFG Goiano. Depois, em maio, esteve na Feira Agro Centro-Oeste Familiar, realizada pela unidade, e na Exposição das Tecnologias Voltadas ao Desenvolvimento da Pecuária (Expopec), de Porangatu. No início de junho, passou pela Festa do Peão/Feira do Empreendedor de São Luiz do Norte. À frente do projeto está o professor Mairon Marques dos Santos, que tem se surpreendido com o interesse. “Estamos recebendo muitos convites de cidades vizinhas”, afirma.
E até mesmo de quem já vivenciou a experiência. Cristiane Gonçalves dos Reis, diretora do Instituto de Formação, Extensão, Pesquisa e Inovação, de Porangatu, conta que 300 pessoas passaram pelo Baú da Ciência no único dia que ele aportou por lá e ficou “um gostinho de quero mais”. Segundo ela, como muitas escolas estavam em período de avaliação, não puderam enviar seus alunos. “Elas já nos procuraram para agendar, com antecedência. Queremos trazer novamente o caminhão em agosto, durante a ExpoNorte”, revela.
Os responsáveis pelo projeto comemoram o sucesso da iniciativa, mas se veem diante de novos desafios. “Não temos condições de atender a grande demanda pelo Baú da Ciência. Faltam recursos humanos, porque não podemos ficar deslocando professores, e financeiros para cobrir custos com combustível e diárias de motorista”, explica o diretor do campus Ceres do IF Goiano. Cleiton Sousa espera que haja uma contrapartida dos interessados para arcar com os gastos de deslocamento.
Alunos têm acesso a experiências
Para mostrar, na prática, o que a ciência revela, professores das áreas definidas para compor a unidade móvel decidem o que será apresentado em cada parada do caminhão. O pessoal da química prepara soluções que mostram reações como mudança de cor em função do PH que podem ser visualizadas a olho nu; o da biologia leva um fungo, uma bactéria ou material vegetal que é colocado no microscópio; a turma da física mostra detalhes da eletricidade, de força ou energia; e, para complementar, peritos em informática entram com a parte de automação e construção de materiais para impressão em 3D.
Aparentemente pode parecer algo simples para quem está acostumado a frequentar laboratórios, mesmo em escolas de nível básico, mas faz uma grande diferença em localidades mais distantes.
“Muitos estudantes precisam chegar à faculdade para ter acesso a um laboratório. O que estamos fazendo é que isso aconteça muito antes e não estamos atingindo apenas jovens matriculados nas redes de ensino, mas também adultos que podem se inteirar com os processos científicos”, ressalta Cleiton Souza.
Matéria publicada no Jornal O Popular do dia 20/06/2022: