Com foco na campanha pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, o diretório estadual do PT trabalha no fortalecimento do Núcleo dos Evangélicos e Evangélicas do Partido dos Trabalhadores (Nept) em Goiás. O movimento é nacional e já está organizado em pelo menos 21 estados. O foco na eleição deste ano partiu de Lula, que solicitou atenção no diálogo com o segmento.
No Brasil, a população evangélica se divide em diferentes denominações e grupos. Desde a eleição de 2018, chama atenção o apoio de lideranças do meio a Jair Bolsonaro (PL). Apesar de ser católico, o presidente mantém diálogo próximo com pastores de igrejas com abrangência nacional desde o período da pré-campanha de 2018.
Em Goiânia, Bolsonaro já visitou em duas oportunidades a Assembleia de Deus Madureira, liderada por Oídes José do Carmo, irmão do senador Luiz do Carmo (sem partido).
No PT, a aposta é no peso do descontentamento do público evangélico com a economia e com a gestão de Bolsonaro. À frente do Nept nacional, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirma que o foco do PT é no diálogo com “o povo evangélico” e não necessariamente com seus líderes (leia mais abaixo).
Pesquisa PoderData, realizada de 13 a 15 de fevereiro de 2022, indica que Bolsonaro receberia 44% dos votos do público evangélico no 1º turno da eleição, contra 32% de Lula.
Coordenadora do Nept em Goiás, Hiranildes Lôbo conta que, por aqui, o grupo existe há cerca de dois anos e está organizado em 10 cidades, mas o objetivo é chegar aos 246 municípios goianos.
Com reuniões mensais de trabalho e movimentação em grupo de WhatsApp e nas redes sociais, o objetivo é, segundo a coordenadora, mostrar que existe afinidade entre políticas públicas propostas e executadas pelo o PT e as demandas do público evangélico.
Segundo Hiranildes, o grupo foi criado para contrapor entendimento de que todos os evangélicos são aliados a Bolsonaro e concordam com suas ações. “Existem lideranças ligadas a ele. Mas te digo que existem muitos evangélicos que estiveram com Lula e estão enxergando a tremenda barbárie que é esse governo. Aquele que verdadeiramente lê a Bíblia e enxerga a Bíblia de forma verdadeira e profunda, sabe que Bolsonaro não tem nada a ver com os cristãos”, diz a coordenadora.
Ela cita o posicionamento contrário do presidente à vacina da Covid-19 como argumento.
Para a coordenadora, políticas públicas aplicadas pelo PT voltadas para alimentação de famílias pobres e direito à educação para diferentes classes sociais são temas intimamente ligados ao princípio evangélico de “olhar pelos órfãos e viúvas”.
Hiranildes afirma que o objetivo do Nept neste momento é criar maior proximidade com o segmento, mas não há certeza se será possível atingir lideranças representativas do meio.
Presidente do PT em Goiás, Katia Maria afirma que a executiva estadual está com a organização do núcleo avançada. “Para nós não é uma disputa entre as religiões, mas uma disputa de projeto de sociedade, que tem adeptos em todas as denominações religiosas, que defendem uma sociedade mais justa e fraterna.”
Em Goiás, o pré-candidato do PT ao governo é o ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) Wolmir Amado. Apesar da ligação com a igreja católica, lideranças do PT dizem que este fator não será problema para que ele auxilie no diálogo com o público evangélico.
Esta é a visão de Hiranildes e do deputado federal Rubens Otoni. O parlamentar afirma que o pré-candidato é preparado para dialogar sobre o tema, sobre o qual tem domínio.
Otoni diz que está otimista em relação ao trabalho do PT com o setor evangélico e conta que lideranças de diferentes denominações do interior do estado têm procurado o partido para demonstrar apoio a Lula. Isso ocorre, segundo o deputado, mesmo nos municípios em que ainda não há núcleo organizado.
Questionado sobre qual é o foco do PT em um cenário em que parte dos líderes evangélicos se aproximou de Bolsonaro, o deputado respondeu que o partido dará atenção “à vida do povo”.
“Venderam a ilusão de que a situação iria melhorar, e o que ocorreu foi retrocesso. A maioria da população evangélica é de classe média e baixa, e está sofrendo as consequências dos desmandos do governo Bolsonaro. Nosso foco é a vida do povo”, diz.
Estratégia
Professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Mundim avalia que, do ponto de vista eleitoral, é interessante que o PT invista no diálogo com evangélicos por este segmento ser um importante ponto de apoio para o atual presidente. “O PT não podia entregar esse público na mão de Bolsonaro.”
Para Mundim, apesar de este ser um grupo que, em geral, é motivado por valores, é preciso entender como este público vai se comportar politicamente. “Além de ser evangélica, essa pessoa tem renda e sofre com aumentos de preços e com outras dificuldades”, afirma.
3 Perguntas para Benedita da Silva (Deputada federal pelo Rio de Janeiro, é coordenadora nacional do Núcleo dos Evangélicos do PT)
1- O presidente Lula pediu que o partido investisse na formação de núcleos evangélicos nos estados. O que está sendo feito para viabilizar essa aproximação?
Nós temos o Núcleo dos Evangélicos do PT em 21 estados. Estamos produzindo um material para iniciar o diálogo com os evangélicos, mas não necessariamente do PT, porque esses já sabem e estão dentro. Nós estamos dialogando em cima das políticas públicas do presidente Lula. Não tem nenhuma receita. É falarmos da verdade, do que foi feito no governo do Lula, para trazer à memória aquilo que foi importante para o País e que atingiu número considerável de evangélicos. Os evangélicos estão em crescimento e é preciso ter um olhar para a contribuição que eles podem dar na formulação de uma política para esse País sair do sufoco. Não é apenas fazer uma discussão de costumes. Se a gente só fazer uma discussão de costumes, isso não muda a economia, não vai trazer empregos para as pessoas. O PT nunca trabalhou contra os valores e crenças dos evangélicos. A contribuição do PT com os evangélicos sempre aconteceu. E aconteceu pela execução de políticas sociais que mudaram a realidade do povo brasileiro e mudou também a vida dos evangélicos, como Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Brasil sem Miséria, Luz para Todos, Mais Médicos, o programa das universidades. É importante dizer que das 24 milhões de famílias brasileiras que compraram geladeira, 8 milhões eram lares de evangélicos. A gente quer dialogar sobre uma política abrangente, uma política para o Brasil, de inclusão, de desenvolvimento e respeito à Constituição. Nós temos uma Constituição, em que está o direito da liberdade de culto. Não tem por que agora, no caos em que o Brasil está metido, não dialogar com os evangélicos, até mesmo com aqueles que votaram com o Bolsonaro.
2- Quais lideranças evangélicas que já estão com o PT neste projeto e como é a participação delas?
Sempre que falam “lideranças evangélicas estão com fulano ou ciclano”, estão falando da cúpula da igreja, dos pastores. Nós estamos falando de evangélicos e evangélicas. Nós estamos falando para o povo evangélico. E o povo evangélico está na classe média e classe alta, mas a maioria é da classe popular. É esse diálogo que queremos e estamos fazendo. É a senhora que está lá no pico do morro, é evangélica e cuida do seu netinho e precisa ter escola. Que haja boa qualidade de água e de saneamento para as pessoas. Quem pode ficar contra isso? Acho que nenhum cristão fica contra isso. No governo de Lula, 38 milhões de negros e negras tiveram acesso a água de qualidade e saneamento adequado. Destes, 13 milhões eram evangélicos. Como falar em evangélico é muito abrangente, você vai encontrar evangélicos em movimentos sociais, nos partidos políticos, como o nosso, no movimento das mulheres, dos negros, dos trabalhadores rurais. Estamos dialogando com essas pessoas sobre seu salário, sobre seu emprego ou desemprego. Falam que os evangélicos estão todos com o governo (Bolsonaro). Não estão. Isso não é verdade. A começar pelo meu partido. A gente quer fazer essa discussão e mostrar que evangélicos também votam no PT. O Haddad teve 30% de evangélicos votando com ele. Não é pouca coisa para uma campanha que foi em cima da hora, todo mundo estava esperando o Lula, mas prenderam o Lula. Não tem nenhuma estratégia invisível. Ela é pura e transparente, é conversar com as pessoas.
3-O pré-candidato ao governo de Goiás do PT, Wolmir Amado, é ligado à igreja católica. O PT também tem raízes na igreja católica. Isso atrapalha o plano?
Nunca atrapalhou. Os evangélicos não brigam com os católicos. A nossa disputa de ideias não é uma guerra religiosa da igreja X ou Y. Temos outros segmentos religiosos com os quais também dialogamos e que em Goiás há de ter, como católico, evangélico, candomblecista. E um candidato ao governo dialoga com todo mundo. O Lula também recebe apoio de religiosos católicos. Temos nosso setorial inter-religioso no PT que dialoga com todas as formas das religiões. Não atrapalha em absolutamente nada.
Fonte: O Popular
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